Caro Leitor,
Compreendo que se sinta ofendido com este título. Afinal de contas, isto não é pergunta que se faça, nem resposta que se dê. Chega a ser verdadeiramente ofensivo apresentar-lhe este tipo de conteúdo. Com conclusões tão básicas.
Concluir que os nossos jovens precisam de aprender sobre educação financeira desde tenra idade não é uma conclusão brilhante. É uma conclusão evidente.
A minha profissão permite-me e obriga-me a ter acesso a informação muito sensível para as pessoas: a sua informação financeira. E a amostra que tenho permite-me concluir que somos péssimos gestores das nossas finanças pessoais. Digo-o com total frieza. Propositadamente. Para que possamos tomar consciência do problema. E da solução.
Por essa razão, não posso colocar este ‘’ónus de instrução’’ nas famílias das nossas crianças e jovens. Porque, honestamente, não acredito que a generalidade da população adulta esteja capacitada para transmitir às gerações mais jovens os conhecimentos mais básicos sobre temas relacionados com literacia e educação financeira. Porque, em boa verdade, também nunca adquiriram essas competências.
Preocupa-me que esta necessidade passe completamente ao lado da maioria de nós, cidadãos. E, em consequência, das escolas e da maioria dos agentes educativos com uma intervenção direta na formação dos nossos jovens.
Preocupa-me ainda mais que esta necessidade passe ao lado da nossa Assembleia da República, que decide rejeitar um Projeto de Resolução que recomendava ao Governo que se desse a preponderância devida à literacia financeira em contexto escolar.
Um dos argumentos apresentados foi o de que ‘’a educação financeira já faz parte do currículo das escolas, nomeadamente no que diz respeito aos dois ciclos do ensino básico e de forma opcional no ensino secundário’’.
Brilhante. Afinal temos o problema resolvido. Ou talvez não.
Teríamos, não fosse verdade o facto de Portugal ocupar um dos últimos lugares no ranking de literacia financeira entre um conjunto de países desenvolvidos. E como se não bastasse, somos um dos países em que se regista maior dificuldade no cumprimento atempado de obrigações financeiras.
Repare: Considera-se que a ‘’educação financeira já faz parte do currículo das escolas’’, mas ocupamos um dos últimos lugares no ranking de literacia financeira. Quão instruído é preciso ser para compreender com facilidade que há alguma coisa que não estamos a fazer bem?
Não é preciso ser-se deputado, certamente.
O mundo financeiro evolui a uma velocidade difícil de acompanhar. Fala-se em moedas virtuais, quando ainda há pessoas com receio de utilizar uma conta bancária. Desconsideramos a importância de criar hábitos de poupança, quando se discute a (in)sustentabilidade da Segurança Social e de outros sistemas de previdência. Ficamos deslumbrados com o potencial de rentabilidade de alguns ativos financeiros, mas temos que subscrever o que o nosso gestor de conta nos sugere, porque nem sabemos chamar pelo nome o produto que subscrevemos.
O futuro financeiro das nossas crianças e jovens não é uma check-list! Não podemos apenas questionar-nos se já há ‘’qualquer coisa’’ implementada nas escolas sobre o tema ‘’educação financeira’’, para dar resposta às exigências do Professor Bruxelas.
Não podemos bastar-nos com o mínimo necessário para não ter um recado na caderneta. Não basta termos o TPC feito, quando sabemos que o fizemos à pressa no intervalo. Porque, aparentemente, não aprendemos nada com isso!
E como felizmente existem pessoas com mais legitimidade do que eu para se pronunciarem sobre este tipo de matérias, como é o caso da Bárbara Barroso, a maior autoridade nacional em educação financeira e finanças pessoais, quero convidá-lo a ouvi-la no seu seu Podcast MoneyBar. Invista 30 minutos do seu tempo.