Amortizar Crédito Habitação ou Investir?
Esta é uma das perguntas feitas com mais frequência por parte de quem tem um crédito habitação e algum capital disponível. ‘’Devo optar pela amortização do crédito habitação ou investir num produto financeiro que me gere alguma rentabilidade?’’ Se também já fez esta pergunta a si próprio talvez este artigo possa ajudá-lo a chegar a alguma conclusão.
Tendencialmente, a resposta a esta pergunta resume-se a um deprimente ‘’depende’’. Desta vez, ainda que não possamos dar-lhe uma resposta tão concreta como gostaríamos, queremos, pelo menos, dar-lhe uma orientação para que possa chegar a essa conclusão por si próprio.
Estas são algumas das perguntas que deve fazer antes de tomar uma decisão.
Já tenho um Fundo de Emergência?
Não há nenhum especialista em finanças pessoais que negue a importância de reduzirmos o nosso nível de endividamento. É inegável que um menor nível de endividamento significa uma melhor saúde financeira. Mas será que sempre que tem capital disponível deve ter como prioridade a amortização de um crédito, nomeadamente, o crédito habitação?
Caso tenha um ou vários créditos contratados, antes de dar prioridade à amortização do crédito de forma antecipada, deve concentrar-se em criar o seu fundo de emergência. Ou, em alternativa, pode optar por canalizar parte do seu dinheiro para a amortização da dívida e a parte restante para a constituição ou reforço do seu fundo de emergência.
Não deve canalizar a totalidade dos seus capitais para a amortização se isso prejudicar a sua almofada financeira. Lembre-se que deve ter sempre uma reserva de segurança para imprevistos que possam ocorrer na sua vida pessoal. Essa reserva deve corresponder ao valor que considerar necessário para fazer face a todas as suas despesas essenciais durante um período que deve mediar entre 6 a 12 meses.
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Qual o Preço do Dinheiro?
Investidores e consumidores partilham de uma preocupação: os juros. Quando está posicionado no lugar de consumidor paga juros a uma entidade para lhe emprestar dinheiro. Quando está posicionado no lugar de investidor é pago por uma entidade para colocar determinado volume de capital à sua disposição. A questão é: quanto é que paga para ter acesso a dinheiro? E quanto é que vão pagar-lhe para ter acesso ao seu capital?
Num primeiro momento e na qualidade de consumidor, deve tentar perceber qual é a taxa de juro que está a pagar ao banco pelo seu crédito habitação – consulte a TAN no seu último extrato. Mas não fique por aqui. Há uma etapa ainda mais importante (que a maioria acaba por desconsiderar) e que pode fazer toda a diferença no momento de tomar a decisão entre amortizar ou investir. A taxa de juro que está a pagar ao banco, em princípio, é negociável e, por isso, pode reduzi-la significativamente.
Se concluir que, efetivamente, há margem para negociação, independentemente da sua decisão, não deixe, em nenhuma circunstância, de o fazer.
Depois, e já na qualidade de investidor, deve tentar perceber qual é o produto ou instrumento financeiro em que gostaria de investir. Naturalmente, deve estar absolutamente consciente do produto que está a subscrever, de todas as suas características como o risco associado e o potencial retorno. Não tome uma decisão apenas com base em indicações de terceiros. Faça um estudo prévio, compare vários produtos e defina, com base no seu perfil de risco, o que melhor se adequa à sua situação em particular.
Estando em condições para comparar a taxa de juro que paga pelo seu crédito habitação, com o potencial retorno do seu investimento, a decisão começa a tornar-se clara.
Atenção aos Encargos!
Existe um pormenor importantíssimo que alguns investidores ou aspirantes a investidores ignoram com frequência por desconhecimento. Nunca deixe de considerar que qualquer investimento mobiliário (nomeadamente Certificados de Aforro, do Tesouro, Ações, Fundos de Investimento, entre outros), estão sujeitos a tributação em sede de IRS. Não corra o risco de olhar apenas para as taxas brutas. Considere que, no pior dos cenários, a taxa liberatória a aplicar aos seus rendimentos provenientes de investimento mobiliário será de 28%. Os PPR’s, por sua vez, são um tipo de investimento muito especial, com benefícios fiscais associados, desde que verificados determinados requisitos.
Antes de tomar uma decisão deve também considerar outra situação muito importante. Recorde-se que caso opte pela amortização antecipada do seu crédito habitação, no momento da amortização terá de pagar uma taxa que incide sobre o valor amortizado antecipadamente. A taxa corresponde a 0,5% sobre o capital amortizado, se o seu crédito tiver sido contratado ao abrigo de uma taxa variável ou se estiver em período de taxa variável. A taxa corresponde a 2% sobre o capital amortizado, se o seu crédito tiver sido contratado ao abrigo de uma taxa fixa pela totalidade do prazo ou estiver em período de taxa fixa. Excecionalmente, até ao final de 2024, caso tenha um crédito habitação, sujeito a taxa variável, não terá de suportar qualquer encargo
Ler mais Sobre: Amortização Antecipada Crédito Habitação (bportugal.pt)
Apesar de não ser possível adiantar-lhe uma resposta suficientemente concreta, por desconhecermos a sua situação em particular, há algo que podemos afirmar com total segurança. Qualquer uma destas opções é melhor face à possibilidade de, pura e simplesmente, deixar o seu dinheiro no banco. Garanta apenas que nesta tomada de decisão o seu fundo de emergência não é posto em causa.